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VALORES MORAIS

  REFLEXÃO PROFUNDA UM OLHAR FILOSÓFICO









                                             dividou.As acções são assim, coisas   em ignorância. Uma pessoa embria-
                                             que dependem de nós, isto é, a sua   gada pode agir por ignorância, mas
                                             existência passa necessariamente    a sua ignorância é devido ao álcool
                                             por nós.                            consumido e não por falta de conhe-
                                               A acção involuntária é aquela que   cimento. Portanto, o álcool não o faz
                                             é efectuada sob compulsão ou em     inconsciente como tal, mas diminui
                                             resultado  da  ignorância.  Um  acto  é   a sua capacidade de raciocínio e re-
                                             compulsório quando  a sua  origem   flexão, e assim sendo, o seu acto não
                                             tem como causa algo externo ao      é involuntário, mas sim, voluntário.
                                             agente, quando em nada ele contri-  Este indivíduo deve ser responsabi-
                                             bui. Por outro lado, tal como o nome   lizado  pelas consequências do  seu
                                             o indica, por acções voluntárias, Aris-  acto. A única ignorância pela qual um
                                             tóteles entende aquelas que têm a   agente pode ser perdoado é a igno-
                                             origem no agente e ele compreende,   rância das circunstâncias particulares
                                             de facto, as circunstâncias em que   ligadas ao acto. Como por exemplo.
                                             actua. O seu acto voluntário, e ele   Se uma pessoa troca a sua pasta pela
                                             é responsável pelas consequências   de outra pessoa por engano, e a leva,
                                             que dela advirem.                   esta pessoa não pode ser tratada por
                                               Portanto, para que um acto seja   gatuna, pois, ela não sabia que esta-
                                             considerado voluntário é necessário   va a levar uma pasta alheia.
                                             saber-se quem é o agente, que está    Estes temas estão muito distantes
                                             ele a fazer, que coisa é efectuada, o   de serem considerados ultrapassa-
                                             meio usado, o resultado pretendido   dos, pois podemos notar que, ainda
                                             pela acção e o modo como age . Não   hoje deparamo-nos com questões
                                             se pode ignorar esses factores, espe-  levantadas por muitos académicos
                                             cialmente o primeiro, visto que cada   e não encontrão a verdade com tal,
                                             agente conhece a sua própria identi-  mais se recorremos no campo filo-
          mas será voluntariamente injusto.  dade.                               sófico que é o campo da verdade
            A singular ignorância em que o     é necessário frisar aqui, que exis-  pura ou das evidências pura encon-
          agente pode ser perdoado é a relativa   tem aquelas acções que são simul-  traremos  a solução, por isso, não
          às circunstâncias particulares ligadas   taneamente voluntárias e involun-  perdemos tempo se o que nos pro-
          ao acto. Mas desde que o acto tenha   tárias. Uma situação do género,   pusemos a reflectir ou esclarecer, é
          origem no agente e ele compreenda   segundo o és aluno do Platão, pode   de uma forma ou de outro  questões
          as circunstâncias em que actua, o seu   ser, por exemplo, «se alguém se vê   que nos afligem hoje.
          acto é voluntário, e ele é responsável   obrigado  a  praticar  um  acto  vergo-
          pelas  consequências.  É uma  falha   nhoso por um tirano que ameaça a   BIBLIOGRAFIA
          grave alguém não compreender que   morte de seus pais e filhos mantidos
          é proibido roubar ou matar por capri-  reféns e ao mesmo tempo promete
          cho é crime ate mesmo  pecado,  rou-  salvá-los se a ordem for executada».   ARISTOTELES. Ética a
          bar um telemóvel, computador, car-  Na visão de Aristóteles, acções do gé-
          tão multicaixa ou um outro bem do   nero  «são  mistas,  embora,  de  facto,  Nicómaco.4ª Ed. Lisboa:
          colega (uma pessoa não pode entrar   pareçam mais ser voluntários. Na ver-  quetzal, 2012
          numa loja, tirar um produto qualquer   dade são escolhas no momento em
          exposto e dizer que não sabia que é   que são praticadas e o fim da acção
          proibido tirar algo sem pagar)..   é determinado de acordo com a oca-    Autoria:  capitão  Francisco  Ho-
            A Acção voluntária e a Acção invo-  sião  a oportunidade no momento».  chimin, graduado em ciência de
          luntária                             Afirmo dizendo que devemos tam-   educação e Licenciado em Filoso-
            A questão da acção voluntária e a   bém ter em conta os actos praticados   fia pela universidade católica de
          da acção involuntária é um assunto   por ignorância. Mas é necessário dis-  Angola. Mestrando ciência de edu-
          que vêem nos ajudar como podemos   tinguir entre aqueles actos que são   cação pela Universidade Metropo-
          responsabilizar moralmente um in-  devidos à ignorância e um acto feito   litana de Assunção .


                                                                  Órgão Informativo do ISTM - Edição  Nº 7 - Maio 2016  47
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