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VALORES MORAIS
REFLEXÃO PROFUNDA UM OLHAR FILOSÓFICO
da idade e da condição social. É tam-
bém produto de uma série de actos
dos quais somos autor. Podemos ser
declarados autor do nosso carácter,
assim como somos dos nossos actos.
Compreender que, do mesmo modo
que os nossos actos podem ser ob-
jectos de elogio também o nosso ca-
rácter pode ser objecto de condena-
ção pela sociedade.
Neste sentido, vícios e virtudes
não são simples traços psicológi-
cos adquiridos, mas têm significado
moral, porque pertencem ao campo
daquilo que depende de nós. Esta
responsabilidade testemunha a se-
riedade da acção. Quando agimos,
não fazemos somente algo sobre
que teremos que responder poste-
riormente, mas escolhemos o que
1. responsabilidade Juristas, Economistas, docentes, dis- vamos ser. Agindo contra as regras
que conhecemos, consentimos em
moral centes, Sociólogos, Médicos, Milita- nos tornar cego à lei, as normas, as
1.1.acçao voluntario e res e em outros campos do saber. regras de conduta e por vezes não sa-
ber mais onde está o bem ou o valor
Uma das provas que fundamen-
acção involuntário tam a minha afirmação é esta passa- da vida. A lei, por isso mesmo, pune
gem. «o ser humano é o criador das mais severamente o intemperan-
suas acções, tal como é o progenitor te por deliberar em vista de um fim
1.responsabilidade moral. dos seus filhos» . Portanto, o princí- mau, já que possui a capacidade para
Embora seja verdade que as boas pio da responsabilidade baseia-se bem deliberar. A ignorância da regra
intenções são requisitos prévios para em duas pressuposições: a realidade pela criança, ou ainda por um doen-
as boas acções, não podemos dizer é contingente Filosoficamente falan- te mental ou qualquer outra pessoa
que uma acção é boa só porque é do (que é incerto suceder ou não), e que não esteja no pleno uso da sua
realizada a partir de um motivo cer- depende do individuo (o individuo é razão, a impede de ser considerada
to. Também não podemos dizer que autor do seu acto quando o acto de- responsável. Já a ignorância da regra
uma acção é boa só porque se lhe se- pende dele). . por parte dum adulto, se é produto
guem boas consequências. Uma boa Posso afirmar que quando uma de uma vida intemperante (como al-
acção é aquela que procede de um pessoa escolhe um determinado cur- coolismo por exemplo), acresce a cul-
bom motivo, utilizando bons meios, so de uma acção, é responsável não pabilidade. Aristóteles um dos mais
e é seguida de boas consequências, só pela escolha que faz, mas também sábios filosofo afirma que:
na medida em que estas podem ser pelas consequências que dela ad- O ignorar que as disposições do
determinadas antecipadamente. vêm. carácter nascem do exercício de uma
Não basta uma boa intenção nem Realizando coisas justas, assumire- actividade, é próprio de alguém com-
mesmo um bom motivo para a nos- mos bons hábitos e o carácter torna- pletamente estúpido. Por isso, não
sa acção ser considerada boa. É ne- -se justo; inversamente, agindo de tem sentido dizer que, quem pratica
cessário também ter-se em conta os maneira intemperante, adquire-se a injustiça não quer, verdadeiramen-
meios usados nesta acção. o hábito de ceder aos desejos e tor- te, ser injusto, nem que o que é dado
Posso mesmo afirmar que respon- namo-nos intemperantes. Portanto, a devassidão não queira ser devasso.
sabilidade do homem frente aos seus podemos notar que o carácter não Com tudo, no caso de alguém não
actos é referenciada inúmeras vezes é apenas o que recebe suas deter- ignorar o que faz e fará dele injusto,
por muitos académicos, assim como minações da natureza, da educação, nessa altura não será apenas injusto
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