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Temasemas 30
Atuais
Atuais
mesmo pior? Nesse caso, terá passado por fala, pode ser decisivo. Assim como o poder
bom um mau aluno, um mau professor, um de moderar um candidato demasiadamente
mau autor de tese, um mau pesquisador, um invetivador (coisa raríssima) ou um arguen-
mau especialista, um mau diplomado, um te demasiadamente perturbador do tempo de
mau profissional, um mau dirigente, sabe- resposta do candidato. O presidente pode usar
-se lá se um mau que pode subir demasiado? mais ou menos os seus poderes, e usá-los bem
Sim, subiu já demasiado ao ter podido apre- ou mal, de forma imparcial ou não…
sentar esse mau trabalho, ao tê-lo publicado,
etc. O formalismo abstrato de pontuações é
bem apto a transmutar qualidades... Pode-se Avaliar é também dar
ter mil pontos e não valer grande coisa, e vi-
ce-versa. Trata-se de saber ou não “trabalhar sentido ao mundo
para os curricula”. Há porém quem bata to-
dos em qualidade e quantidade. Esses “são Há uma grande diferença em encarar a Uni-
perigosos” e devem acautelar as suas costas... versidade com esmero, paixão e dedicação,
Nem tudo é preocupante. Como é lindo ou alinhar pelo chamado “quick and dirty”...
e exaltante ver a euforia coletiva (ainda que O problema é que, no final, por vezes o de-
contida) quando um júri recompensa com dicado será humilhado e o outro exaltado...
alta nota alguém que realmente sente mere- Uma questão de marketing pessoal, amigos,
cer pelo seu concreto trabalho de qualidade. empenhos, políticas, ou apenas a punição
Aí o fazer justiça é igual, mas pelo prémio. justa de um karma? Sorte, talvez?
A concretização do valor Justiça transporta Um dos principais deveres de quem tem
sempre ao céu aqueles que a fazem. Porque algum poder (a qualquer nível) é o de pre-
a Justiça é um valor e é da natureza dos valo- miar os que merecem e não premiar os que
res brilharem com luz própria no firmamen- não merecem. A todos os níveis. E sempre.
to axiológico. Sem isso, o mundo perde sentido. Uma das
E por isso é que é sempre meritório haver principais funções do Direito é mesmo con-
júris, ou bancas, ou tribunais em que haja co- tribuir para dar sentido ao Mundo, pelo me-
legialidade. Mas colegialidade mesmo, em nos pela justa punição. O prémio poderá
que cada um se sinta livre para avaliar por ser dado por outros... Ao menos que o Direi-
si... Sem pessoas que se sintam devedoras ou to atribua retamente a cada um o que é seu,
reféns de outras, pessoas ou instituições… aquilo a que tem direito. Em provas e ava-
E obviamente tem de se avaliar olhan- liações académicas qualquer oficial de qual-
do nos olhos o avaliado, deixando-o carrear quer ofício tem de saber mínimo Direito e
para a sua causa tudo o que for permitido por comportar-se com a retidão e imparcialida-
lei e regulamento, não lhe confiscando o di- de que se exigem ao juiz. Não é desculpa ser-
ENSINO SUPERIOR abr/mai/jun 2018 um inquisidor nem o processo de avaliação jetividade. É administração da Justiça.
reito de provar o que vale, o que sabe, o que
mos artistas, literatos, engenheiros, ou médi-
cos. Somos avaliadores, e a avaliação tem re-
trabalhou, ouvindo-o, consultando-o, dialo-
gando. Dando-lhe tempo. O avaliador não é
gras, e o ser avaliador não é exercício de sub-
pode ser secreto, arcano e muito menos as
regras subvertidas. Ou de tal forma kafkia-
nas que as garantias se esfumem por entre
Crise do Poder e Declínio
prazos e requisitos inatingíveis, incaptáveis...
do Mérito
E tem de se ser imparcial e independente. É
como se fora um juiz.
No nosso tempo, em grande medida os gran-
O papel do presidente desses órgãos cole-
des problemas não são discutidos, e cami-
giais pode ser fulcral. Há mil e uma expedien-
nhamos para o abismo preocupados com o
tes formais que podem alterar o equilíbrio de
que querem que nos ocupe. Muitas vezes chi-
forças, a igualdade dos gládios. Mesmo o sim-
noiseries que distraem do importante. Não
ples poder para determinar a ordem de quem

