Page 33 - Ensino Superior n.º 61
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determinamos minimamente,
como hoje se diz, “a nossa agenda”... todos... Sem
Permanentemente nos colocam em es- cabeça, sem cabeças...
tado de alerta, em situação de constan- Como se sabe, governar vem de
te apagar de fogos, é a doutrina do choque – um verbo grego que significa também apos-
doutrina e prática (Naomi Klein). E, no final, tar a cabeça. E pô-la no cepo. Quem supre-
essas reformas académicas importantíssimas mamente manda joga no limite a sua cabe-
por que queimamos dias e viramos noites em ça. Nas sociedades civilizadas e fora de casos
branco, nada disso resultou em nada, ou deu de guerra e afins, do que se trata é do simbo-
em pior ainda… Logo se mudará. Trabalhos lismo da cabeça e do rosto (Lévinas), a pró-
supérfluos, reuniões supérfluas (quando não pria face que se pode perder no caso de má
mesmo prejudiciais… até à saúde), que nos governação. O governante, aí, talvez porque
desviam e distraem da boa preparação de au- não tenha tido a cabeça no lugar, ou por ter
las, da boa e tranquila pesquisa… Stress so- perdido a cabeça, acaba por mostrar que tem
bre stress de produtores para estatísticas, es- mais que um rosto, e perde a face. Dirão en-
tatística para inglês ver… E o curioso é que tão os seus contraditores que não tem vergo-
muitos dos estudantes julgam que o profes- nha na cara.
sor é apenas aquela horita de aula… Desco- De qualquer modo, o problema ultrapassa
nhecendo todas as corveias que estão antes muito largamente qualquer país em concreto
e depois… e todo o poder político.
Não se pode ficar indiferente à qualidade As sociedades que estamos a criar são o
das lideranças, a muitos níveis. Um ataque preciso contrário da meritocracia, por muito
terrorista? Uma crise económica? Uma guer- que se encham discursos e artigos com ela.
ra mundial? Um tremor de terra? Imagine-se Nem sempre é assim, mas ocorre cada vez
o que se quiser. Sim, tudo isso, sendo terrível, mais: Começa com o passa-culpismo (laxis-
é muito menos terrível quando quem manda mo) e na escola tendendo para hipermercado
está à altura. E também num emprego, numa de títulos fornecidos por profissionais social-
cidade, numa casa. Por toda a parte, se o po- mente desconsiderados (e muitos profunda-
der está em boas mãos, podemos muito mais mente deprimidos), passa à escolha leviana
ficar tranquilos. Mas a sociedade do medo su- nas eleições, ao consumo dos produtos me-
blinha o temor e as ameaças. Não nos tran- diáticos enlatados e manipulados ideologica-
quiliza nada quanto a quem terá que enfren- mente que nos querem impingir. Enfim, é a
tá-los. E é curioso, porque poderia fazê-lo com aceitação de vidas sem sentido e com muito
mera propaganda... Parecemos decapitados sofrimento (e / ou muita alienação), decididas

