Page 15 - Ensino Superior n.º 68/69
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          editais de financiamento de investigação com   dos colaboradores, designação que por vezes
          taxas de aprovação que não alcançam os dois   nos chega na correspondência oficial. Tercei-
          dígitos de percentagem? E, ao mesmo tempo,   ro, foi o RJIES que proporcionou candidaturas
          ter a percepção de que concorrer é tão man-  externas a Reitor/a, a sua eleição indirecta por
          datório como se fosse a natureza a querer re-  um colégio de grandes eleitores chamado Con-
          produzir-se. Não é ciência natural  nem  hu-  selho Geral, parcialmente composto por mem-
          mana, mas ciência em regime de sobrevivên-  bros externos co-optados e, portanto, não elei-
          cia natural. Já se fazia tudo isto de outra ma-  tos, enfim, diluindo significativamente o grau
          neira não fosse o fetiche de que sobreviver é   de  democracia  nas  universidades.  Uma  Uni-
          que é bom e dá rendimento.           versidade mais aberta é uma coisa boa, mas
            Aproximando-se um ciclo eleitoral que le-  não à custa de retirar capacidade democráti-
          vará a novas lideranças nas universidades   ca a todos os que dela fazem parte.   A pró-
          públicas portuguesas, era tempo de os seus   pria ideia de regime pressupõe uma normali-
          reitores dizerem que  não contratam  nem   zação que ameaça o fundo irregimentável do
          mais um falso professor convidado. Por mais   pensamento. Substituir o espaço de argumen-
          que  as  dificuldades  financeiras  induzam  a   tação pública, clara e inteligente, pela mera
          isso.  Não  há  razão  nenhuma  que  justifique   cadeia dos interesses internos de uma organi-
          esta conivência com uma  universidade de   zação e da sua administração, não é o cami-
          castas, e de  sobrevivência, que  se foi insta-  nho que faz falta à universidade e à comuni-
          lando no Ensino Superior público.    dade que serve.
            Mas, há um ponto de convergência de to-  Depois  de  13  anos  de  exercício,  o  que  o
          das as bandeiras por uma Universidade e um   RJIES deixa como legado é uma percepção
          Ensino Superior que não se resigna e capitu-  de que não serviu para tornar a universida-
          la: a urgência da revisão do seu regime jurídi-  de mais diferenciadamente Universidade. Por
          co. Em primeiro lugar, porque foi o RJIES que   outras palavras, tornou-a mais organização e
          abriu porta à eternização da injustiça gritan-  menos encontro de saberes e cidadãos como
          te dos falsos professores convidados e à perda   grande aposta estratégica para um desenvol-
          de força democrática da gestão da Universida-  vimento, também do território em redor, ba-
          de. Antes dele, estes colegas teriam ingressado   seado no Conhecimento, na democracia e no
          nas carreiras, aliás como muitos colegas que   que é comum a um e a outra, o espaço-tempo
          estão na carreira, incluindo o autor deste tex-  comum de argumentação.
          to. Assim o permitia a Lei e nenhum circuns-  Se o novo normal é uma força de normali-
          tancialismo orçamental barrava este direito.   zação no sentido de uma conformação da Uni-
          Em segundo lugar, a célebre autonomia re-  versidade a ser menos universidade, organi-
          forçada não significou mais afirmação públi-  zação produtiva de Ciência híper-normal, pois
          ca da Universidade e do seu papel, significou   bem compete-nos defender uma ideia de Uni-
          mais empresarialização. A missão continua lá,   versidade aquém do normal. Que ainda possa
          mas enquadrada pela ordem da gestão empre-  acontecer e fazer acontecer e não ser simples-
          sarial e nutrida pelo ideário da oportunidade,   mente um regime de normalidade.
          da procura de financiamento, dos projectos e
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