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editais de financiamento de investigação com dos colaboradores, designação que por vezes
taxas de aprovação que não alcançam os dois nos chega na correspondência oficial. Tercei-
dígitos de percentagem? E, ao mesmo tempo, ro, foi o RJIES que proporcionou candidaturas
ter a percepção de que concorrer é tão man- externas a Reitor/a, a sua eleição indirecta por
datório como se fosse a natureza a querer re- um colégio de grandes eleitores chamado Con-
produzir-se. Não é ciência natural nem hu- selho Geral, parcialmente composto por mem-
mana, mas ciência em regime de sobrevivên- bros externos co-optados e, portanto, não elei-
cia natural. Já se fazia tudo isto de outra ma- tos, enfim, diluindo significativamente o grau
neira não fosse o fetiche de que sobreviver é de democracia nas universidades. Uma Uni-
que é bom e dá rendimento. versidade mais aberta é uma coisa boa, mas
Aproximando-se um ciclo eleitoral que le- não à custa de retirar capacidade democráti-
vará a novas lideranças nas universidades ca a todos os que dela fazem parte. A pró-
públicas portuguesas, era tempo de os seus pria ideia de regime pressupõe uma normali-
reitores dizerem que não contratam nem zação que ameaça o fundo irregimentável do
mais um falso professor convidado. Por mais pensamento. Substituir o espaço de argumen-
que as dificuldades financeiras induzam a tação pública, clara e inteligente, pela mera
isso. Não há razão nenhuma que justifique cadeia dos interesses internos de uma organi-
esta conivência com uma universidade de zação e da sua administração, não é o cami-
castas, e de sobrevivência, que se foi insta- nho que faz falta à universidade e à comuni-
lando no Ensino Superior público. dade que serve.
Mas, há um ponto de convergência de to- Depois de 13 anos de exercício, o que o
das as bandeiras por uma Universidade e um RJIES deixa como legado é uma percepção
Ensino Superior que não se resigna e capitu- de que não serviu para tornar a universida-
la: a urgência da revisão do seu regime jurídi- de mais diferenciadamente Universidade. Por
co. Em primeiro lugar, porque foi o RJIES que outras palavras, tornou-a mais organização e
abriu porta à eternização da injustiça gritan- menos encontro de saberes e cidadãos como
te dos falsos professores convidados e à perda grande aposta estratégica para um desenvol-
de força democrática da gestão da Universida- vimento, também do território em redor, ba-
de. Antes dele, estes colegas teriam ingressado seado no Conhecimento, na democracia e no
nas carreiras, aliás como muitos colegas que que é comum a um e a outra, o espaço-tempo
estão na carreira, incluindo o autor deste tex- comum de argumentação.
to. Assim o permitia a Lei e nenhum circuns- Se o novo normal é uma força de normali-
tancialismo orçamental barrava este direito. zação no sentido de uma conformação da Uni-
Em segundo lugar, a célebre autonomia re- versidade a ser menos universidade, organi-
forçada não significou mais afirmação públi- zação produtiva de Ciência híper-normal, pois
ca da Universidade e do seu papel, significou bem compete-nos defender uma ideia de Uni-
mais empresarialização. A missão continua lá, versidade aquém do normal. Que ainda possa
mas enquadrada pela ordem da gestão empre- acontecer e fazer acontecer e não ser simples-
sarial e nutrida pelo ideário da oportunidade, mente um regime de normalidade.
da procura de financiamento, dos projectos e

