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1. A AGENDA POLÍTICA ESCONDIDA
A agenda escondida do RJIES assenta em três exigências de adaptação à economia e à
pressupostos fundamentais: empregabilidade.
1) Mercadorização progressiva dos servi-
ços educativos da universidade. A substituição da lógica de governo cívica pela
2) Alteração do modelo institucional de lógica da eficiência assenta em duas falácias:
governo assente na participação cidadã e a) A primeira considera que a crise insti-
no serviço público por outro que privile- tucional da universidade é sobretudo um
gia a eficiência e a adaptação à economia problema de falta de autoridade e de ex-
e à empregabilidade. cesso de democraticidade e daí a opção
3) Alteração da cultura colaborativa que por um modelo de governo tido por mais
constitui o modo de produção do conhe- eficiente, pela razão simples de ser pro-
cimento universitário por uma cultura da veniente do mundo empresarial, como
concorrência. se isso fosse argumento bastante, estabe-
lecendo o regresso ao modelo de Director
A mercadorização dos serviços educativos de Faculdade com a possibilidade de con-
tem penetrado por duas vias principais: centração de todo o poder científico, peda-
a) Por um lado, o Estado tem vindo a de- gógico, administrativo e executivo numa
sinvestir no ensino superior público, obri- única pessoa.
gando a universidade a ultrapassar a crise b) A segunda sugere que poucos, investi-
financeira, que ele próprio ajudou a criar, dos de poder para tal, governam melhor
através da captação de uma parcela cada que muitos.
vez mais elevada de receitas próprias. O
resultado tem sido a privatização progres- No conjunto, estas duas falácias propõem
siva de parte dos serviços que o ensino su- que a liberdade, autonomia e colegialidade
perior presta. académicas são um obstáculo à lógica empre-
b) Um outro nível de mercadorização sarial que deveria existir na Universidade. E
consiste em tentar transformar a uni- por isso se pretende impor que o governo da
versidade no seu conjunto numa empre- universidade se desloque dos docentes-inves-
sa que vende serviços a consumidores de tigadores para os docentes-gestores, e, den-
educação. A educação deixaria assim de tro de pouco tempo, para uma nova classe
ser um bem público a que se acede atra- de gestores, formados e treinados para fazer
vés do direito à educação, para passar a parcerias com agentes privados e para mobi-
ser um bem que se transacciona segun- lizar recursos numa universidade ameaçada
do os mesmos princípios de segmentação pela asfixia financeira.
e diferenciação dos consumidores. O re- Finalmente, a passagem da cultura de co-
sultado desta política tem sido a redução laboração à cultura da concorrência, preten-
da liberdade académica sob a pressão das de provocar diversos tipos de competição

