Page 20 - Ensino Superior n.º 68/69
P. 20

Organização                                                                       18
                   do Ensino





















                                                                                      ESQUERDA.NET ON VISUAL HUNT











            como o da normalização constitucional, mas   vários,  pela  hegemonia  da  lógica  gestioná-
            também académica. Depois de uma fase cur-  ria, tendencialmente mais sujeita às pressões
            ta em que vigorou o princípio de todo o poder   constrangedoras do orçamento e dos parcei-
            às bases, regressou-se a um modelo institucio-  ros públicos e privados externos.
            nalizado de partilha do poder, com meios de   A Assembleia Estatutária da Universidade
            checks and balances que, à imagem da orga-  de Coimbra aprovou há 12 anos um modelo
            nização estatal, separou os poderes científico,   de governo para todas as suas unidades or-
            executivo, pedagógico e de fiscalização. Esta   gânicas assente justamente na concentração
            separação de poderes continua, do meu pon-  dos poderes executivo, pedagógico e cientí-
            to de vista, a justificar-se em toda a sua exten-  fico num único órgão uninominal – o Direc-
            são. Por um lado, porque as políticas, os pro-  tor da Faculdade. Juntamente com outros co-
            blemas, a tipologia de constrangimentos e o   legas opus-me a esta solução e o tempo tem-
            tipo de soluções adoptados por estes órgãos é   -nos dado inteira razão. Trata-se de uma de-
            diferente e cria pontos de vista diversos. E o   cisão  que  tem  afastado  progressivamente
            ponto de vista é a vista a partir de um pon-  muitos sectores da universidade das suas de-
       ENSINO SUPERIOR     jan/fev/mar e abr/mai/jun 2020
            to. Ora, o lugar de observação do Director é   cisões estratégicas, que favoreceu a instala-
            bastante diferente do lugar de onde observa   ção  de  nomenclaturas,  limitando  os  meca-
            o  Presidente  do  Conselho  Científico.  Dito  de   nismos de controlo e equilíbrio de poderes e,
            outro modo, não é o sujeito que faz o órgão,   por conseguinte, merece uma avaliação ur-
            mas é em grande medida o órgão que molda o   gente e detalhada.
            sujeito e o olhar de quem ocupa o lugar num   Alguns dos argumentos que sustentaram
            determinado momento. Se tomarmos como   a decisão são bem conhecidos. Em primeiro
            exemplo situações vividas em muitas uni-  lugar, o argumento da eficiência. No entan-
            versidades, facilmente concluiremos como   to, o argumento da eficiência, rapidez e au-
            a lógica da decisão executiva é tantas vezes   sência  de  conflito  entre  centros  de  decisão
            contraditória com a decisão científica. E isso   é contraditório com valores mais importan-
            não trouxe nenhum mal à universidade. An-  tes como são os ganhos de eficácia estratégi-
            tes pelo contrário, a história destas relações   ca que apenas se obtém através de sistemas
            tem sido feita de conflitos, negociações e com-  de checks and balances; ganhos de mobiliza-
            promissos que são a expressão exacta de uma   ção, dado que mais centros de decisão repre-
            tensão criadora. O que tem constituído um   sentam melhor os interesses e menos centros
            problema sério foi, por imposição do RJIES,   de decisão tendem a impor decisões e a dar
            construir um modelo de governo que acei-  ordens; ganhos de feed-back, dado que para
            tou a contaminação da lógica científica, ten-  reduzir a entropia, temos que garantir a crí-
            dencialmente mais livre de constrangimentos   tica e o contraditório é imprescindível para a
   15   16   17   18   19   20   21   22   23   24   25