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vias. A maior parte das universidades portu- melhor se adaptaria a esta nova situação se-
guesas tem optado por um modelo top-down ria a de todos os centros de investigação se in-
que pretende forçar a transdisciplinaridade tegrarem nas universidades e de, através de
por intermédio da definição de áreas pré-es- parcerias, consórcios e outras modalidades
tabelecidas, independentemente da quanti- jurídicas e organizacionais, passarem a coor-
dade e qualidade dos projectos transdiscipli- denar a investigação e os estudos pós-gradua-
nares já existentes no terreno. Parecem acre- dos em subunidades orgânicas de dimensão
ditar que a estrutura fará nascer os projec- e autonomia variáveis. Porém, num momen-
tos. Embora compreenda algumas virtualida- to de transição tão brutalmente rápido, cada
des que este modelo pode ter, considero que unidade orgânica deveria ter a liberdade de
a opção por uma segunda via tem, neste caso, estabelecer e instituir os modelos organiza-
vantagens. A experiência das organizações cionais que melhor se adaptassem à sua reali-
adocráticas sugere que se aborde o proble- dade, de modo a não limitar a energia produ-
ma da transdisciplinaridade num modelo bo- tiva de dinâmicas criadas anteriormente.
ttom-up, isto é, dos projectos transdisciplina- Antevejo pelo menos três modalidades di-
res concretos para as estruturas a criar à me- ferentes para esta nova articulação entre in-
dida do seu desenvolvimento. Assim, os pro- vestigação e estudos pós-graduados: a) have-
jectos transdisciplinares já existentes e aque- rá casos de centros de investigação e labora-
les que venham a ser promovidos no futuro tórios associados de excelência que tenderão
por um plano estratégico que os eleja como a ser o centro de gravidade da criação e coor-
prioridade, deveriam resultar em estruturas denação de cursos pós-graduados nacionais
dúcteis de tipo matricial que fossem dando e internacionais e, por conseguinte, tenderão
resposta de forma ad-hoc às novas necessida- a constituir subunidades orgânicas ou esco-
des de coordenação. O princípio organizacio- las de estudos avançados; b) haverá casos em
nal a seguir deveria ser o de não ter estru- que os cursos de 2.º e 3.º ciclo pressionarão
turas a mais nem a menos do que as neces- no sentido da colaboração e parceria de vá-
sárias para responder aos projectos interdis- rios centros de investigação da mesma ou de
ciplinares que as universidades fossem capa- diferentes unidades orgânicas; c) haverá ca-
zes de pôr em execução. O centro de gravida- sos em que os cursos estarão associados ape-
de da lógica matricial deveria, por conseguin- nas a um centro de investigação e não haverá
te, estar situado na escala local das relações necessidade de constituir subunidades orgâ-
entre Faculdades, entre centros de investiga- nicas. Em qualquer das soluções, criar-se-ão
ção e escolas de pós-graduação, embora de- inevitavelmente novas zonas de incerteza a
vesse ter também uma expressão estratégica que as universidades se terão que acomodar
no nível central. Podem encontrar-se várias com o tempo. Uma das maiores zonas de in-
soluções para esta equação central-local, mas certeza será sem dúvida a do enquadramen-
todas elas passando pelo princípio de que a to dúplice de grande parte dos docentes que
estratégia deve tender para uma certa homo- continuarão, numa fase de transição, a traba-
geneidade e coesão, e por isso deve ser central, lhar segundo a lógica das disciplinas na licen-
e a construção de projectos transdisciplinares ciatura e na lógica do laboratório e da produ-
deve tender para a diversidade e heterogenei- ção de conhecimento nas escolas de estudos
dade e, por conseguinte, deve ser local. pós-graduados. Este é reconhecidamente um
Pressuposto da liberdade académica dos efeitos mais difíceis de gerir numa estru-
apoiado na produção de conhecimento. O tura híbrida desta natureza.
modelo de organização interna das univer-
sidades ainda está ancorado na prioridade à 2.2. O modelo de governo
produção de licenciados e já não correspon- Pressuposto da decisão democrática alar-
de bem a uma universidade que queira ser re- gada ancorado na responsabilidade exigen-
search-oriented e, portanto, deva ter nas pós- te. O modelo anterior de governo da univer-
-graduações e na investigação o seu verda- sidade portuguesa está associado a um parti-
deiro centro de gravidade. A estrutura que cular momento histórico que ficou conhecido

