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          aprendizagem das organizações que se quei-  representação dos eleitos perante a respecti-
          ram orientar para a investigação, inovação e   va Faculdade e, as segundas, o meio possível,
          desenvolvimento. Ainda que os argumentos   embora insuficiente, de check and balance do
          da rapidez e da eficiência fossem empirica-  governo central da universidade.
          mente válidos, e isso está longe de ser com-  O governo do ensino superior deveria, fi-
          provado, creio que ficam a perder diante de   nalmente, articular a liderança estratégica,
          valores como o do isomorfismo da estrutura   assegurada por políticas aprovadas no ní-
          orgânica em relação às prioridades estratégi-  vel central, com uma alargada e democrática
          cas. Mal se percebe que, no preciso momen-  descentralização  administrativa,  pedagógica
          to em que o centro de gravidade das univer-  e científica das unidades orgânicas. Para esse
          sidades se deslocava para a investigação e os   efeito, tenho sugerido os seguintes princípios
          estudos pós-graduados, o Conselho Científico   para a reorganização do modelo de governo
          tenha perdido a sua tradicional função de co-  da universidade:
          mando científico autónomo, parcialmente li-  - o  princípio  da diversidade dos modelos
          vre dos  constrangimentos burocráticos, ad-  internos  de governo, permitindo a liber-
          ministrativos e orçamentais do centro de de-  dade  de  organização  das  unidades  orgâ-
          cisão executivo e gestionário.         nicas da forma que considerem mais ade-
            Mas também perde força o argumento da   quada à concretização da sua missão, bem
          harmonia e paz entre órgãos quando pensa-  como  à  especificidade  do  contexto  e  dos
          mos em eficácia estra-                                projectos  que preten-
          tégica já que, num pe-                                dem desenvolver;
          ríodo de constrangi-  Obter uma resolução para        - o princípio da ampla
          mentos  de toda a or-                                 participação  represen-
          dem, especialmente os   esta equação, a partir        tativa;
          orçamentais, do que   de um enquadramento             - o princípio da autono-
          a  universidade  mais                                 mia das unidades orgâ-
          precisa é  de  salva-  jurídico mau, e imposto        nicas, alargando dras-
          guardar a autonomia   de modo autoritário, não        ticamente a delegação
          e liberdade de pen-                                   de competências cien-
          sar e  de criar dos do-  se afigura tarefa fácil      tíficas  e  pedagógicas
          centes-investigadores,                                para os órgãos de go-
          de  modo a  constituir                                verno das Faculdades.
          um  contrapeso ao forte pendor burocrático
          e orçamental dos docentes-gestores. A eficá-  Em resumo e concluindo, podemos dizer que
          cia estratégica há-de ancorar-se no aumento   a contra-agenda propõe potenciar a capaci-
          de ideias e de projectos e não na sua restri-  dade de a universidade continuar a valori-
          ção. Neste sentido, a existência de uma ten-  zar o mérito num  contexto  de colaboração,
          são gerível entre  o  Director de  Faculdade  e   de obter ganhos de liderança através da par-
          o Presidente do Conselho Científico só pode   ticipação e eleição democráticas, de alcançar
          ser criativa dado que é a expressão da tensão   mais eficiência num ambiente de eficácia es-
          entre o desejável e o realizável. A assunção   tratégica. Trata-se de instituir uma cultura de
          das funções de Presidente do Conselho Cien-  máxima eficácia e benefícios mútuos capaz de
          tífico pelo Director de Faculdade tem limita-  dar prioridade ao bem comum e de mobili-
          do gravemente os horizontes da universida-  zar os interesses individuais e as várias uni-
          de apenas à gestão do possível, deixando de   dades  orgânicas.  Obter  uma  resolução  para
          confrontar as universidades com a capacida-  esta equação, a partir de um enquadramento
          de de gerar novas e improváveis necessida-  jurídico mau, e imposto de modo autoritário,
          des de conhecimento.                 não se afigura tarefa fácil. É por isso que está
            A  universidade  deveria  manter  instân-  na hora de revisitar o RJIES, exigindo a sua
          cias de participação e representação alarga-  avaliação independente, que permita expur-
          da nas unidades orgânicas e na universidade,   gar os seus elementos mais nocivos.
          garantindo,  as primeiras, a  legitimidade  de
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