Page 21 - Ensino Superior n.º 68/69
P. 21
19
aprendizagem das organizações que se quei- representação dos eleitos perante a respecti-
ram orientar para a investigação, inovação e va Faculdade e, as segundas, o meio possível,
desenvolvimento. Ainda que os argumentos embora insuficiente, de check and balance do
da rapidez e da eficiência fossem empirica- governo central da universidade.
mente válidos, e isso está longe de ser com- O governo do ensino superior deveria, fi-
provado, creio que ficam a perder diante de nalmente, articular a liderança estratégica,
valores como o do isomorfismo da estrutura assegurada por políticas aprovadas no ní-
orgânica em relação às prioridades estratégi- vel central, com uma alargada e democrática
cas. Mal se percebe que, no preciso momen- descentralização administrativa, pedagógica
to em que o centro de gravidade das univer- e científica das unidades orgânicas. Para esse
sidades se deslocava para a investigação e os efeito, tenho sugerido os seguintes princípios
estudos pós-graduados, o Conselho Científico para a reorganização do modelo de governo
tenha perdido a sua tradicional função de co- da universidade:
mando científico autónomo, parcialmente li- - o princípio da diversidade dos modelos
vre dos constrangimentos burocráticos, ad- internos de governo, permitindo a liber-
ministrativos e orçamentais do centro de de- dade de organização das unidades orgâ-
cisão executivo e gestionário. nicas da forma que considerem mais ade-
Mas também perde força o argumento da quada à concretização da sua missão, bem
harmonia e paz entre órgãos quando pensa- como à especificidade do contexto e dos
mos em eficácia estra- projectos que preten-
tégica já que, num pe- dem desenvolver;
ríodo de constrangi- Obter uma resolução para - o princípio da ampla
mentos de toda a or- participação represen-
dem, especialmente os esta equação, a partir tativa;
orçamentais, do que de um enquadramento - o princípio da autono-
a universidade mais mia das unidades orgâ-
precisa é de salva- jurídico mau, e imposto nicas, alargando dras-
guardar a autonomia de modo autoritário, não ticamente a delegação
e liberdade de pen- de competências cien-
sar e de criar dos do- se afigura tarefa fácil tíficas e pedagógicas
centes-investigadores, para os órgãos de go-
de modo a constituir verno das Faculdades.
um contrapeso ao forte pendor burocrático
e orçamental dos docentes-gestores. A eficá- Em resumo e concluindo, podemos dizer que
cia estratégica há-de ancorar-se no aumento a contra-agenda propõe potenciar a capaci-
de ideias e de projectos e não na sua restri- dade de a universidade continuar a valori-
ção. Neste sentido, a existência de uma ten- zar o mérito num contexto de colaboração,
são gerível entre o Director de Faculdade e de obter ganhos de liderança através da par-
o Presidente do Conselho Científico só pode ticipação e eleição democráticas, de alcançar
ser criativa dado que é a expressão da tensão mais eficiência num ambiente de eficácia es-
entre o desejável e o realizável. A assunção tratégica. Trata-se de instituir uma cultura de
das funções de Presidente do Conselho Cien- máxima eficácia e benefícios mútuos capaz de
tífico pelo Director de Faculdade tem limita- dar prioridade ao bem comum e de mobili-
do gravemente os horizontes da universida- zar os interesses individuais e as várias uni-
de apenas à gestão do possível, deixando de dades orgânicas. Obter uma resolução para
confrontar as universidades com a capacida- esta equação, a partir de um enquadramento
de de gerar novas e improváveis necessida- jurídico mau, e imposto de modo autoritário,
des de conhecimento. não se afigura tarefa fácil. É por isso que está
A universidade deveria manter instân- na hora de revisitar o RJIES, exigindo a sua
cias de participação e representação alarga- avaliação independente, que permita expur-
da nas unidades orgânicas e na universidade, gar os seus elementos mais nocivos.
garantindo, as primeiras, a legitimidade de

